Diga ao Povo que Zico


Dentre os momentos mágicos vividos por todos nós, trirrienses, no evento Marinho Bola de Ouro, realizado no Estádio Odair Gama, em 2015, um não me sai da lembrança: Jorginho, tetracampeão mundial e ex-jogador do CR Flamengo, puxando a fila em direção ao campo sem ser incomodado ao lado do Deley, Mauro Galvão, Adílio, Wilson Gotardo, Arthurzinho, Julio Cesar, Reinaldo, Waldir Bigode entre tantos.

Um pouco mais atrás, uma multidão apaixonada cercava e seguia um só jogador: “Ei! Ei! Ei! Zico é o nosso Rei!”

Alguém ao meu lado comentou: “E olha que ele nem ganhou uma Copa do Mundo!”. “Azar da Copa do Mundo!”, foi a resposta que todos ali encontramos.

Era um grito de guerra de jovens, homens, mulheres e crianças que certamente jamais o viram jogar. Que só deviam conhecê-lo pelos vídeos ou lembranças dos momentos relatados por seus pais.

Este grupo, que o seguiu com celulares em punho dando mais brilho aquele séquito, desnudava uma cena tão bonita e inusitada que minha filha, Roberta, neta Luisa ao colo, confessava junto ao alambrado jamais ter presenciado algo parecido.

Este gesto, de uma multidão cercando seu ídolo, foi apagado na geração dos meus filhos rubro-negros e botafoguenses. Não tiveram Zizinho e Ademir, como a dos meus pais, nem Pelé e Rivelino, como a minha.

No máximo, Romário de um lado, Seedorf e Loco Abreu do outro. Mas nada que provocasse um frenesi daqueles. Mas afinal, mudaram os torcedores ou desapareceram os ídolos?

Num país colonizado pela FIFA e dirigido pela república da CBF, torcedores trirrienses apaixonados pelo futebol, que tiveram o privilégio de ter dois times na primeira divisão profissional do estado, América FC e Entrerriense FC, revelado um ponta esquerda para a seleção brasileira, o Ferreira, craques como Leonardo para o Fluminense e Vinícius Righi para o Flamengo, cansaram da mediocridade dos dois sistemas.

Imbuídos pelo amor à bola conclamaram naquele momento, no centro do campo, a monarquia como uma nova forma de governo para o nosso futebol. Nela, o poder supremo será exercido daqui pra frente por um soberano. Dom Arthur Antunes Coimbra. O Rei Zico.

Não foi um golpe. Foi uma revolução, Três Rios, não às margens do rio Ipiranga, onde seis meses depois do Fico fora proclamada a Independência, mas às margens dos rios Piabanha, Paraibuna e Paraíba do Sul, cansou, como todo o país, da incompetência e da corrupção dos cartolas que mancharam nossa bonita história esportiva.

Não suportou mais o descaso da FERJ com o interior. Do vexame do Marin e do Del Nero com nosso nome no exterior.

Aclamado, ao chegar ao centro do gramado perante quatro mil torcedores, Zico, como D. Pedro I, com o manto sagrado de número 10 às costas, declarou a Radio Três Rios e ao Entre-Rios Jornal: “Se é para o bem da bola e felicidade geral da torcida, diga ao povo que Zico!”

Tantas vezes utilizadas por ditaduras sul americanas para encobrir a opressão e a tortura dos seus Videlas, Pinochet e Garrastazu Médici, ópio maior de um povo portador de traumas como 1950 e 7x1, o futebol brasileiro finalmente se libertou, na noite do dia 23 de Julho de 2015, das agruras dos seus opressores. Que buscavam a todo custo um hexa superfaturado.

Mais que a busca por uma taça, optaram pelo resgate da arte. Da beleza do drible. Da esperança de uma nação que elevou ao trono seu novo monarca sob o cântico da esperança: “Ei!Ei!Ei! Zico é o nosso Rei!”

Por José Roberto Padilha 

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