Ficava faltando o depois


Durante a nossa infância, Três Rios tinha em seus cinemas Glória e Rex a sua atração principal. O Glória ficava onde era a Zebrinha, aliás, nem tem mais a Zebrinha, era ali no calçadão. E o Rex ficava onde está estabelecida atualmente a Igreja Universal.

Aparelhos de televisão eram raros, Internet nem nos melhores sonhos, e os filmes eram o prato principal na cidade durante toda a semana. Não se falava em outra coisa.

Hollywood dava as cartas e nós jogávamos com elas. Ditava a moda, nos apresenta símbolos sexuais e heróis de toda sorte. 

Nossos cachorros se chamavam Rin Tin Tin ou Lassie. Talvez isso explique porque lá em casa se chorou mais por Kennedy do que por Vargas.

Quando tinha, 12 anos, meu Tio Miguel me levou pars assistir "Krakatoa, o Inferno de Java". E quando uma imensa onda, provocada pela erupção do vulcão, avançou sobre uma cidade os moradores correram juntos... eu me juntei a eles e saí em disparada em direção a saída. Tio Miguel correu desesperado atrás de mim. Pegaram nó meu pé até os 15 anos.

Era passar na rua e os gaiatos gritarem: "Olha a onda aí Zé! Corre!"

A outra lembrança da telona veio do Cine Roxy, Copacabana, numa fase marcante do cinema brasileiro chamada Pornochanchada. Não sei como a censura permitia, era sacanagem explícita e nós, já crescidos, fomos atrás dela.

Todos os filmes tinham algo em comum: o cara seduzia a mulher tomando Whisky. Estava bombando, o Red Label era o Tanqueray de hoje.

Depois iam para a cama, faziam o que tinham que fazer e Jece Valadão, o gostosão, olhava de soslaio pelo facho do abajur para a fêmea abatida.

E daí dava uma tragada no cigarro, mas tão prazerosa que emitia rosquinhas pela fumaça. Como jogava bola e não fumava, por mais que me esforçasse, sempre ficava a impressão que faltou aquela tragada. Que pela expressão do macho devia valer doze orgasmos.

Só mais tarde, descobri que havia o Plano B. No lugar do cigarro, abria-se um bombom de cereja da Kopenhagen, aquele de papel laminado bordô, e o colocava inteiro na boca. Depois dava uma leve mordida e licor dos deuses ia ocupando as estranhas da felicidade.

Certa vez dei essa dica para um amigo. Ele disse que a Kopenhaguen mais próxima ficava em Itaipava. E tratou ele mesmo de criar o Plano C.

Abriu um buraco na lata de Leite Condensado Moça e deixou escorrer pela garganta. Segundo ele, algo à altura do Gin e da fêmea abatida.

Não duvido.

Por José Roberto Padilha
Imagem: Reprodução do colunista

Comentar

Postagem Anterior Próxima Postagem