Doval: 30 anos de saudades do herói tricolor!



1978: Narciso Horácio Doval, "Cidadão Brasileiro" (Reprodução)


1977: Como uma criança tricolor poderia não ser feliz tendo Doval como ídolo? (Reprodução)


A Máquina Bicampeã Carioca de 76. Em pé: em pé Renato, Carlos Alberto Torres, Miguel, Carlos Alberto Pintinho, Rubens Galaxe e Rodrigues Neto. Agachados: Gil, Paulo César Lima (o "Caju"), Doval, Rivellino e Dirceu (Reprodução)



Reprodução do texto de Eduardo Coelho, Publicado em 12/10/2021 no site canalflunews.com.br

Um ídolo de futebol é uma coisa muito séria! O ídolo de futebol é eterno! Jamais esquecemos nossos ídolos de futebol!

Seus feitos são heróicos, suas conquistas imortais. Os ídolos de futebol (eu disse, "ídolos") são verdadeiros deuses para sua torcida.

E nós tricolores temos uma vasta constelação de "eternos ídolos". E vários deuses. E um deles é o imortal argentino Doval!

Neste dia 12 de outubro de 2021, venho falar de um grande ídolo tricolor da segunda metade da década de 1970, Narciso Horácio Doval.

O argentino, nascido em 4 de janeiro de 1944 na capital Buenos Aires, começou a jogar futebol nas peladas de Palermo onde nasceu e morava.

E daí para o San Lorenzo. Em 1967, Doval foi considerado um dos melhores atacantes argentinos e inclusive chegando a Seleção Argentina.

Em 1968, Elba de Pádua Lima, o Tim, o eterno ídolo tricolor do tricampeonato de 1938 e do bicampeonato de 1941, estava treinando o time do San Lorenzo.

Tim, como técnico foi campeão carioca pelo Fluminense, em 1964. Tim ou El Peón, também conhecido como "O Estrategista", foi campeão metropolitano pelo San Lorenzo, em 1968. Tim se tornaria um grande fã do futebol de Doval. E Doval considerava Tim o melhor treinador que teve. Ainda no San Lorenzo, Tim teria dito para Doval: "Se você for ao Rio, nunca mais vai sair de lá".

Com Tim treinando o Flamengo, Doval aceita o convite feito pelo treinador. Em 1969, Doval chega ao Rio de Janeiro.

Em 1971, com problemas com o técnico Yustrich, Doval volta à Argentina para jogar no arquirrival do San Lorenzo, o Huracán. Mas em 1972, com Zagallo treinando o Flamengo, Doval voltaria ao Rio de Janeiro.

Neste ano de 1972, Doval foi campeão carioca e artilheiro do campeonato com 16 gols. Em 1974, Doval voltaria a ser campeão carioca pelo Flamengo.

Em 1975, Doval evitava comentar, mas havia um grupo de jogadores que era contra a sua inclusão no time. Porém, muitos sabiam de quem se tratavam: os irmãos Zico e Edu, além de Caio e Luisinho, uma turma forte e que ainda conseguiu a conivência do treinador e alguns dirigentes.

No dia 18 de dezembro de 1975, enquanto Zico casava, Doval mantinha contato com José Lemos, importante dirigente de futebol do Fluminense, aceitando sua ida para as Laranjeiras, em 1976. Assim que a transação foi acertada, Doval foi passar férias em Mar del Plata.

O genial Dr°. Francisco Horta, presidente do Fluminense, em 1975, propôs a seguinte troca ao Flamengo: os tricolores Toninho, Roberto e Zé Roberto iriam para a Gávea, e Doval, Rodrigues Neto e Renato, viriam para as Laranjeiras. Com a transação acertada, Doval declarou animado com o futuro no Tricolor:

"No Fluminense, sei que vou jogar onde quero e gosto, ao lado de uma porção de cobras. Gil e eu lá na frente vamos resolver o problema de gols".

Para um desgosto profundo dos rubro-negros do Fluminense com o mesmo amor que suou a do Flamengo. Prometeu e cumpriu! Tanto que a torcida rubro-negra passou a persegui-lo no Maracanã, insultando-o e gritando "maconheiro".

Doval não demoraria para conquistar a exigente torcida tricolor e tornar-se ídolo do Fluminense. Doval passava a integrar a "Máquina Tricolor", considerada um dos maiores esquadrões do futebol arte brasileiro de todos os tempos. Doval, por ser argentino, seria o único jogador da "Máquina" sem passagem pela Seleção Brasileira, que em 1976, chegou a convocar dez jogadores tricolores.

A "Máquina" teve Rivellino, Félix, Marco Antônio e Paulo César Lima, em 1975, e Carlos Alberto Torres, em 1976, todos tricampeões do mundo, em 1970, na Copa do México.

Em setembro de 1976, em grande fase no Fluminense, Doval declarou: "O Flamengo é mais raça, garra, a torcida empurra o time. O Fluminense é mais técnico, futebol-alegria. Hoje afirmo sem medo de errar, estou na melhor fase de minha carreira. E o futebol jogado pelo Fluminense enche a vista de qualquer torcedor, seja de que clube for".

Faltava um jogo para acabar o campeonato carioca de 1976. E na ocasião, Doval e Gil poderiam decidir quem seria o artilheiro da competição. Ambos estavam empatados na liderança da artilharia com 19 gols. Eram os tempos da arrasadora "Máquina".

Existia um prêmio em dinheiro para quem fizesse mais gols. Doval faria um trato com Gil. Dividiriam o prêmio caso um dos dois marcasse na partida decisiva contra o Vasco.

Diante de 127 mil pagantes e mais uns 30 mil penetras (algo muito comum nos grandes jogos da época), o Fluminense venceu o Vasco por 1 a 0, com um gol sensacional de Doval, aos 14 minutos do segundo tempo da prorrogação.

Foi um delírio tricolor! Uma explosão de intensa alegria! O Fluminense conquistava o bicampeonato carioca de 1976 com o dramático golaço de Doval.

Doval com o gol do título marcado contra o Vasco, se tornaria artilheiro isolado do campeonato com 20 gols.

Em 1976, Doval recebeu o importantíssimo Troféu Bola de Prata da revista Placar como o "Melhor Centroavante do Brasil", em 1976. Ainda em 1976, Doval naturalizava-se como "cidadão brasileiro". Doval de fato se considerava brasileiro.

Doval era apaixonado pelo Rio de Janeiro. Gostava muito de praia. Gostava da beleza das mulheres cariocas. Gostava de jogar vôlei. Gostava de ficar em frente à Rua Montenegro (atual Vinícius de Moraes), em Ipanema.

Doval gostava de passar no Bar Veloso (atual Garota de Ipanema) pra bater papo com os amigos. Doval, no melhor estilo carioca, dizia brincando: "Vou acabar prefeito do Rio. Aí, todo mundo trabalharia dia sim, dia não. Isso é, um dia de trabalho, outro de carnaval".

Doval era extremamente profissional. Dava tudo de si em campo. Dormia cedo e se alimentava bem. Dava a perna numa jogada. Enfiava a cabeça nos pés dos adversários. Não queria nem saber. Para Doval, qualquer jogo era "Vencer ou vencer".

Entre 1976 e 1979, Doval realizou 143 jogos com a camisa do Fluminense, marcando 68 gols. Dentre eles, o inesquecível, antológico e dramático golaço do Bi de 1976.

Nessa época, Doval fez muitos tricolores felizes tornando-se um grande ídolo do Fluminense. Espacialmente muitas crianças. Muitas crianças de todas as idades.

Em 2019, uma grande pesquisa do instituto Datafolha, demonstrou que o Fluminense possui "a maior torcida de futebol do Brasil", na faixa etária de 45 a 59 anos.

Os organizadores da pesquisa, avaliaram que esse resultado é uma das grandes heranças da "Máquina Tricolor" de Rivellino, Paulo César, Doval e companhia.

Em 1979, Doval voltaria para a capital da Argentina, para jogar novamente pelo San Lorenzo. Em 12 de outubro de 1991, há exatos "30 anos", aos 47 anos, após sofrer uma parada cardíaca Doval faleceu, em Buenos Aires, a sua cidade natal.

Como seu pai, Doval também era hipertenso. Os desígnios de Deus, fizeram com que Doval partisse no "Dia da Criança" e "Dia da Padroeira do Brasil".

Doval foi ídolo no Flamengo e ídolo no Fluminense, mas era admirado por todas as torcidas cariocas e por todo o Brasil.

Alguns torcedores do Flamengo e do Fluminense não esquecem o eterno ídolo Doval e continuam a reverenciá-lo. Alguns realizam missas em sua homenagem a cada aniversário de sua passagem.

Doval é eterno!

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