Pedro e Paulo: discípulos com missões específicas I

“Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” (Mt 16,13)

Festejamos nos últimos dias a Solenidade de São Pedro e São Paulo, Colunas da Igreja e padroeiro da nossa querida cidade vizinha de Paraíba do Sul.

O evangelho proclamado na Liturgia de ambos apóstolos nos situa diante de uma pergunta provocativa de Jesus: “e vós quem dizeis que eu sou”.

Tal pergunta, dirigida aos discípulos e a cada um de nós, não só ajuda a des-velar (tirar o véu) a verdadeira identidade de Jesus como também nossa identidade original. E para aprofundarmos esse Mistério da Fé, compartilho a reflexão do colega jesuíta, Pe Adroaldo.

Pedro, ao responder – “Tu és o Messias...” – no fundo, estava também deixando transparecer sua própria nobreza interior, aquilo que é o fundamento e sobre a qual se pode construir toda uma vida.

E Jesus, como verdadeiro “pedagogo”, explicita o que estava escondido nas profundezas do coração de Pedro. “Tu és “petra” (rocha, base sólida)”. Essa é a verdadeira identidade de Pedro.

Ressoa no interior de cada um de nós esta mesma voz: “Tu és rocha...”

O coração de cada um está habitado de sonhos de vida, de futuro, de projetos; sente-se seduzido pelo que é verdadeiro, bom e belo; busca ardentemente a pacificação, a unificação interior, a harmonia com tudo e com todos...; sente ressoar o chamado da verdade, o magnetismo do amor, da plenitude; sente-se atraído por um desejo irreprimível de auto transcendência, de crescimento, de maturidade.

Só a partir da vivência e da solidez interior poderemos descobrir o que significa Jesus como “Messias, o Filho do Deus vivo”.

Só a partir da identificação com Ele é que poderemos também descobrir nossa original filiação, fundamento de nossa vida: “somos filhos e filhas do Deus vivo”.

A filiação é a solidez que nos unifica a todos; ela é a base que sustenta nossa identificação com Jesus Cristo.

Não é fácil tentar responder com sinceridade à pergunta de Jesus: “Quem dizeis que eu sou?”. Na realidade, “quem é Jesus para nós?”

Sua pessoa, seu modo original de ser e viver, chega a nós através de vinte séculos de imagens, fórmulas, devoções, experiências, interpretações culturais... que vão desvelando e velando ao mesmo tempo sua riqueza insondável.

Mas, além disso, cada um de nós vai revestindo a Jesus com aquilo que nós somos. E acabamos projetando n’Ele nossos desejos, aspirações, interesses e limitações. E, quase sem nos dar conta, O apequenamos e O desfiguramos, mesmo quando queremos exaltá-lo.

Mas Jesus continua vivo e sua presença, na história da humanidade, sempre se revela provocativa e surpreendente.

Na realidade, o que notamos é que grande parte dos cristãos não seguem e não se identificam com a Pessoa de Jesus; seguem doutrinas, ritos, algumas obrigações legais... que não tem impacto no modo de viver de cada um.

Mas Jesus não se deixa etiquetar nem se deixa reduzir a alguns ritos, algumas fórmulas ou alguns costumes.

Jesus sempre desconcerta a quem se aproxima d’Ele com atitude aberta e sincera. Ele se revela sempre diferente daquilo que pensamos e esperamos. Sempre abre novas brechas em nossa vida, rompe nossos esquemas e nos atrai a uma vida nova.

Quanto mais O conhecemos, mais sabemos que ainda estamos começando a descobri-lo.

Responder à pergunta - “quem dizeis que eu sou?” – é “perigoso” porque nos compromete com o modo de viver de Jesus: sua liberdade perante as tradições religiosas, sua relação com os mais pobres, sua opção clara em favor de uma causa humanizadora (Reino), a vivência dos valores presentes nas Bem-aventuranças, a visibilização do mandamento do Amor...

Literalmente falando, Jesus é um “subversivo”, pois sub-verte nosso modo fechado de viver e de nos relacionar com os outros.

Percebemos nele uma entrega livre que desmascara nosso egoísmo; Ele revela uma paixão pela justiça que sacode nossas seguranças, privilégios e busca de poder; transparece n’Ele uma ternura que deixa descoberto nossa mesquinhez, uma liberdade que põe às claras nossos apegos e dependências.

E, sobretudo, vemos n’Ele um mistério de abertura, proximidade e intimidade com o Deus da Vida, que nos atrai e nos convida também a abrir nossa existência à intimidade com Ele.

Medoro, irmão menor-padre pecador

Comentar

Postagem Anterior Próxima Postagem