Da Série "Testemunha Ocular da História" 2

José Roberto Padilha no Flamengo. Imagem: Arquivo pessoal.

Era ponta esquerda. E todos que jogavam nesta posição vestiam a camisa 11. Quando entrávamos em campo, procurávamos o número 2 deles.

Era contra ele, baixo e leal como Fidélis, o Touro Sentado, ou alto que baixava o sarrafo, como Orlando Lelé, o duelo a ser travado durante 90 minutos.

Era nosso objetivo alcançar à linha de fundo e cruzar para o nosso centroavante. Que vestia a camisa 9, enfrentava os adversários de numero 3 e 4, e tinha a ajuda do seu camisa 10.

Que vinha detrás e era marcado pelo número 5. Os canhotos tinham um lado, os destros disputavam a posição no outro.

E os números ajudavam a explicar o futebol para nossas mães, tias, primas e sobrinhas, e eram diversos os duelos que aconteciam dentro de uma mesma partida de futebol.

No entanto, o Carrossel Holandês, apresentado na Copa do Mundo de 1974, na Alemanha, acabou com a festa. E foi um divisor na prática do futebol em todo o planeta. Todo mundo passou a jogar contra todo mundo.

Tal inovação embaralhou os números das camisas e os pontas e laterais se tornaram alas. Seus passes e cruzamentos foram promovidos a assistências.

E os shows individuais, dados por gênios como Mané Garrincha, deram vez a um mecanizado Tic-Tac coletivo A supremacia da valorização da posse de bola se tornou mais importante que um drible.

Pepe, Gilson Nunes, Abel, Romeu, Lula, Éder Aleixo, Zé Sérgio, Edu, Nei. Denilson, Zezé, Júlio César, Sávio e Mário Sergio. Não era pouca gente hábil que proporcionava shows à parte quando duelavam em busca da lha de fundo.

Todos os torcedores tinham figurinhas do seu ponta-esquerda de admiração. E estimação. Agora, não tem mais.

Felizmente, tiraram essa foto. Da testemunha ocular desta história, um dos últimos que procuraram a linha de fundo e acabou no fundo da linha divisória traçada por Rinus Michels.

Acontece. Segue o baile.


A primeira, jogada fora de casa, é que decide

Sorteio CBF. Imagem: Reprodução.

Fui treinador durante oito anos. Fluminese FC, divisões de base, América FC-TR, Entrerriense FC e Ariquemes FC. Deu para ter a experiência de ir a uma decisão, Entrerriense X Friburguense, para saber quem levantaria a Taça da Segunda Divisão do Estadual Carioca de 1994.

Os dois já haviam subido, declarados vencedores, mas o Bris Belga, supervidor do clube Serrano, nos convidou ao desafio. Foi ótimo, os dois clubes faturaram uma renda extra para pagar suas premiações.

Só que ele pediu para decidir em casa. Ganhamos de 1x0 em Três Rios e de 2x1 em Friburgo. Foi aí que percebi que jogar a primeira em casa é bem melhor.

Você abre uma vantagem e depois vai administrar, um pouco mais fechados, explorando os contra-ataques, sobre um time que joga contra o tempo e a impaciência dos torcedores. Que vão se irritando se a vantagem demora a ser revertida.

Acho que o Flamengo está perdendo a oportunidade de ficar calado após o sorteio da Copa do Brasil. De questionar a CBF porque seu mando de campo foi invertido. Tem time para vencer fora de casa e depois colocar o desespero na roda.

Mesmo porque ele e o Corinthians, detentores das maiores torcidas do país, independente do território que pisem, serão sempre os únicos times a jogar a primeira e a segunda partida dentro de casa.

Por José Roberto Padilha

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