No cenário brasileiro, existia um homem que enfrentava um mundo inteiro de janeiro a janeiro
Esse homem se chamava JoãoCidadão brasileiro de nascença
João tinha mulher
João tinha filhos
João tinha brilho
Após o desabrochar da manhã cinza, o espelho retratava o que ninguém mais via
O sujeito de olhos castanhos era trabalhador
Encarava a vida de peito aberto por entre as construções de concreto
João saiu do trabalho e foi para um bar na Avenida São João
João saiu de lá sujo, embriagado, anestesiado e sem nenhum centavo no bolso
João cuspiu no chão gelado
João nem sentiu o frio que tomava conta do “Estado”
João não olhou para os lados
João cambaleava de um lado para o outro na frente do fétido esgoto
João foi atropelado por um carro que pensava estar estacionado
João ficou em frangalhos
João havia bebido muito e não tinha se alimentado direito
João que havia sido jovem sonhador, precisava lidar mais de perto com a dor
João pensava sobre o que era ter direitos
Sobre o que era ser vítima de preconceitos
João já tinha certa idade
João pensava sobre igualdade e equidade
João sofreu
João sorriu
João partiu
João morreu e nem viu
Quando João foi atropelado o seu corpo foi rapidamente deixado de lado
Para muitos se tratava de mais um João estirado no chão
João que havia bebido muito vinho barato, estava sozinho?
Seria ele flor de espinhos?
João entrou pelo cano sem ter feito nenhum plano
João morreu por engano?
Muitas coisas por debaixo dos panos...
Penso que João só queria ser feliz vivendo na matrix.
Essa é a história da vida e morte de João
Do João que tinha um bom coração
João que ficou em frangalhos por ter se refugiado num corpo embriagado de uma alma entorpecida
João que era cidadão perdido no meio da população
João que estava em construção
João que morreu atropelado, enquanto se sentia cidadão rejeitado
Por Jhean Garcia
*Conteúdo literário em homenagem a Nicolau Garcia Rosa e a todos os trabalhadores brasileiros*
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