Como o reservado a você, a trajetória admirável de um garoto humilde, amparado pelo amor, adotado pelo carinho, que alcançou, pela simplicidade e simpatia, o respeito de uma cidade inteirinha.
Lembro direitinho você menino, frequentando os salões e as piscinas do CAER, um dos primeiros negros a ter acesso a um clube elitizado, preconceituoso à época, que era o reflexo da nossa sociedade.
Sua empatia era tamanha, que ajudou a abrir as portas e a clarear estatutos sombrios. Perante a presença de uma alma tão pura, a cor da cútis passou a ser considerada uma imensa bobagem.
Minha sábia mãe, que tocava piano, já dizia: "Quem não gosta de musica, não gosta de Deus!". E você, desde cedo, a adotou para nos levar a sonhar pelas pistas, do CAER e de tantos clubes e boates, tocando trilhas sonoras que embalaram corpos e mentes de várias gerações.
Acabo de passar pelo seu Castelo. E me arrepiei.
Muitas vezes, empresários abrem poderosas franquias, distribuem mesas pelas calçadas, colocam dezenas de garçons a nos servir...e são esquecidos. Lembra? Foi o roteiro escrito para eles. Não são piores, nem melhores. Apenas personagens diferentes deste enigmático enredo chamado vida.
Mas o seu Castelo, que orgulho, tinha um quarto só. Duas mesas, um freezer e apenas você a nos servir. E lá se acomodavam, dentro de uma só gaveta, direitinho, apertadinho, toda a admiração que aprendemos a ter a seu respeito.
Descanse em paz, amigo. E obrigado pela honra de tê-lo conhecido.
Por José Roberto Padilha
Imagem: Reprodução
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