Um Sistema Educacional em crise, agonizante!

Considerando o Sistema Educacional Brasileiro uma construção da sociedade, muito além de representar mero cadastro contínuo, preenchido e atualizado por instituições de educação básica (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio), de educação superior, federais, estaduais e municipais, públicas e privadas, assim como instituições federais de educação profissional e tecnologia, a população fica cada vez mais perplexa com seus rumos, desde o advento da pandemia Covid-19.

No primeiro trimestre de 2019, segundo projeção da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, ao menos 1,5 milhão de crianças e adolescentes ficaram fora da escola no Brasil.

Muitos foram e continuam sendo os fatores que contribuem para o progressivo abandono e a evasão, sempre articulados às desigualdades sociais e estruturais de nosso país, seja pela falta de acesso a serviços e equipamentos de telecomunicação adequados para o ensino remoto, seja pelos mais variados impactos da inoportuna tendência político-ideológica dominante entre os trabalhadores do setor, além de questões de ordem sanitária.

É preciso reiterar que os anos iniciais do processo educacional são reservados para o Ensino Fundamental I e englobam os alunos do 1º ao 5º ano.

Por sua vez, o Ensino Fundamental II atende aos alunos do 6º ao 9º ano, ambos considerados de extrema relevância para as crianças e adolescentes, pois constituem pilares que consolidam a capacidade de se apreender os conteúdos educacionais didática e criteriosamente neles ministrados. Processos naturalmente regidos por questões fisiológicas de crescimento corporal e desenvolvimento em suas potencialidades intelectivas.

Dados divulgados pelo IBGE revelaram que a falta de acesso ao ensino afetou 16,6% das crianças e adolescentes residentes em domicílios com renda de até meio salário mínimo (R$ 550).

Já nas famílias com renda acima de quatro salários mínimos (R$ 4.400), só 3,9% dos estudantes ficaram sem estudar.

Além disso, o IBGE apontou que, de todas as crianças e adolescentes que se afastaram da escola, 46,7% são de estados do Norte e do Nordeste, considerados mais pobres. E 69,3% deles eram negros, pardos e indígenas, inclusive, aqueles com algum tipo de deficiência

Ficou também evidenciado que uma das principais causas dessa lacuna no ritmo de estudos das crianças e adolescentes está associada à baixa qualidade de acesso à internet na maioria das regiões brasileiras, sobretudo em periferias, zonas rurais e comunidades afastadas das sedes dos municípios.

A esse respeito, cabe pontuar que residir em regiões privilegiadas, no Brasil, não confere garantia de boa qualidade de acesso à internet, ainda que se haja chegada geração 5G, ao menos ao que se propaga aos quatro cantos.

O cenário chama a atenção da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, que prevê graves consequências causadas pelo afastamento de crianças e adolescentes das atividades escolares.

Segundo o órgão, o fechamento das escolas, associado ao desemprego e a queda de renda familiar, causará queda na qualidade de vida e aumento de problemas como insegurança alimentar, pobreza, exploração infantil e trabalho infantil.

As previsões negativas deveriam ser suficientes para que alguma medida administrativa em termos de Política de Estado, fosse tomada.

Convocando os gestores responsáveis pelo funcionamento do sistema educacional para adoção de estratégias efetivas de retorno ao trabalho.

Mesmo ante rumores da incerta data da volta às aulas presenciais em muitas unidades de ensino nos estados, distrito federal e municípios, seu pesado fardo já compromete de forma irreversível a qualidade da mão de obra com impactos prejudiciais, tanto para o mercado de trabalho quanto para a produção das empresas brasileiras.

Não serviria de motivo para o despertar da consciência dos que torcem para o dito “quanto pior, melhor”?

Afinal, todas as futuras gerações de brasileiros e brasileiras pagarão essa conta, incluídos nesse rol seus próprios descendentes.

Havemos de assumir que esse baixo rendimento escolar trará também grandes dificuldades para os docentes que atuam no ensino superior, na árdua tarefa de preparar as pessoas para utilização do raciocínio crítico, reflexivo e inovador, essenciais ao desempenho das atividades complexas de produção e divulgação de conhecimentos, próprias para estudantes que ingressarão nos cursos de graduação e pós-graduação.

Por Wiliam Machado

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