Outro dia, remexendo meu baú, já que gavetas você tem até os cinquenta anos, encontrei num caderninho o nome das minhas namoradas no Colégio Entre- Rios.
Estavam num boletim de notas. Todos os dias nos encontrávamos antes e depois do recreio, e o mais impressionante, com exceção de uma delas, até hoje continuam iguais. A Matemática era fria e calculista.
Estavam num boletim de notas. Todos os dias nos encontrávamos antes e depois do recreio, e o mais impressionante, com exceção de uma delas, até hoje continuam iguais. A Matemática era fria e calculista.
Embora recentemente o Professor Armando Bessa tenha tentado reatar nosso flerte às vésperas do concurso público, continuamos a nos desentender quando a soma dos quadrados dos catetos insistia em se encontrar com a hipotenusa.
E sabia desde sempre, desligado como sou, que não viveríamos muito tempo linearmente.
A Química era interessante, cheia de fórmulas, mas como a Biologia, tinha que debruçar à noite sobre sua fotossíntese e seus pais, a natureza, já estavam estressados com a violação da camada de ozônio - e daí a filiar-me no Partido Verde não custava.
A Química era interessante, cheia de fórmulas, mas como a Biologia, tinha que debruçar à noite sobre sua fotossíntese e seus pais, a natureza, já estavam estressados com a violação da camada de ozônio - e daí a filiar-me no Partido Verde não custava.
E nos corredores do colégio, para desespero do Prof. Juquinha, contestando a indicação dos bedéis, exigindo presunto junto ao pão com queixo servido após os desfiles cívicos, todo mundo já sabia que seria PT na vida.
Em Religião fui reprovado. Tinha aulas na paróquia dos Padilhas e as outras eram no centro espírita dos Cerqueiras Lopes. Para não melindrar ninguém na família, matei todas e fiquei no pátio jogando futebol.
Outra que me marcou profundamente foi a Língua Portuguesa. Era chique na época, usava expressões em Latim e brigava comigo exigindo cada pingo nos is. Quando as crases eram dirigidas ao masculino, sinal de crise. Não de ciúmes, de burrice mesmo.
Em Religião fui reprovado. Tinha aulas na paróquia dos Padilhas e as outras eram no centro espírita dos Cerqueiras Lopes. Para não melindrar ninguém na família, matei todas e fiquei no pátio jogando futebol.
Outra que me marcou profundamente foi a Língua Portuguesa. Era chique na época, usava expressões em Latim e brigava comigo exigindo cada pingo nos is. Quando as crases eram dirigidas ao masculino, sinal de crise. Não de ciúmes, de burrice mesmo.
Sabia que aquele namoro não serviria pra mim, porque se falasse pra eu terminando a frase, coitado de mim.
Recentemente andou fazendo umas plásticas, tirando hífens, alterando tremas, mas continua ortograficamente confusa.
Até andamos flertando pelas páginas dos jornais e livros, mas só entre contos e crônicas, nada mais sério que nos levasse ao romance.
Até andamos flertando pelas páginas dos jornais e livros, mas só entre contos e crônicas, nada mais sério que nos levasse ao romance.
Quem a desposou foi o Professor Delfino Monteiro, e foi merecido, andava atrás dela desde garotinho e venceu pela impecável ortografia.
Como não havia GPS, meio desligado, sempre errei os caminhos quando buscava destinos diferentes. Eu e a Geografia, e foi um consenso, sem flertes ou rompimentos, sabíamos que não fomos feitos um para o outro.
Entre meus amores de infância, restou-me a História. Sempre gostei dela, das viagens que realizávamos juntos sem sair da sala de aula. Saíamos de Portugal, dávamos uma parada para pegar atabaques e berimbaus nas costas da África, e desembarcávamos com a família real num país cheio de nativos.
Como não havia GPS, meio desligado, sempre errei os caminhos quando buscava destinos diferentes. Eu e a Geografia, e foi um consenso, sem flertes ou rompimentos, sabíamos que não fomos feitos um para o outro.
Entre meus amores de infância, restou-me a História. Sempre gostei dela, das viagens que realizávamos juntos sem sair da sala de aula. Saíamos de Portugal, dávamos uma parada para pegar atabaques e berimbaus nas costas da África, e desembarcávamos com a família real num país cheio de nativos.
Ela, a História, era uma menina nova, cheia de datas festivas na cabeça, em ordem cronológica, que uma sábia tia profetizou um dia: “Se continuares assim, quando crescer vai virar museu”.
E nada mais maçante do que esposar um museu. Deixamos de nos ver por muito tempo.
Certo dia a vi em Pearl Harbor, e como ela estava atual perante a nossa quase sempre bombardeada Faixa de Gaza. Matei saudades quando revi O Poderoso Chefão, onde outra vez se mostrou renovada quando Rodrigo Maia perdeu a presidência da Câmara dos Deputados e vão precisar filmar a sequência pois hão de surgir, em Brasília, novos e poderosos. Até que cruzei com ela nas salas da UCP durante uma pós graduação.
Aí ela já era uma outra história. Segundo soube, depois que namorou um liberal alemão, um tal Reinhart, vulgo Koselleck, nunca mais foi a mesma.
E nada mais maçante do que esposar um museu. Deixamos de nos ver por muito tempo.
Certo dia a vi em Pearl Harbor, e como ela estava atual perante a nossa quase sempre bombardeada Faixa de Gaza. Matei saudades quando revi O Poderoso Chefão, onde outra vez se mostrou renovada quando Rodrigo Maia perdeu a presidência da Câmara dos Deputados e vão precisar filmar a sequência pois hão de surgir, em Brasília, novos e poderosos. Até que cruzei com ela nas salas da UCP durante uma pós graduação.
Aí ela já era uma outra história. Segundo soube, depois que namorou um liberal alemão, um tal Reinhart, vulgo Koselleck, nunca mais foi a mesma.
Deixou de ser a dona do acontecido, mestra da vida, para ser testemunha em tempo real dos acontecimentos. Se tornou espelho da vida.
Enquanto as demais ciências trancam camundongos e experimentam soluções para o homem, ele passou a realizar seus experimentos a céu aberto, com o próprio homem, então protagonista de sua própria história.
Renovada, acaba de receber um vírus letal que vai preencher as páginas das próximas gerações, registrada que será com nossas dúvidas, decretos conflitantes, incertezas sobre como combatê-lo junto a comoção de ver ir embora, como nas guerras, durante a Peste Negra, milhares de pessoas.
Aos 69 anos de idade, não resisti a sua fonte carregada de memória, que narra transformações em tempo real, e a levei debaixo do braço definitivamente para a casa.
Enquanto as demais ciências trancam camundongos e experimentam soluções para o homem, ele passou a realizar seus experimentos a céu aberto, com o próprio homem, então protagonista de sua própria história.
Renovada, acaba de receber um vírus letal que vai preencher as páginas das próximas gerações, registrada que será com nossas dúvidas, decretos conflitantes, incertezas sobre como combatê-lo junto a comoção de ver ir embora, como nas guerras, durante a Peste Negra, milhares de pessoas.
Aos 69 anos de idade, não resisti a sua fonte carregada de memória, que narra transformações em tempo real, e a levei debaixo do braço definitivamente para a casa.
Melhor dizendo, para a sala de leitura onde nos encontramos duas horas por dia, porque nos demais cômodos da minha vida quem anda mandando é a Maristela. É bom enfatizar isto antes que fique mal nesta enamorada história.
Por José Roberto Padilha
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