Deixem Papai Noel fora dessa

Retiramos muita coisa bacana das gerações depois das nossas. Permitimos que Lennon & McCartney brigassem, e os privamos de novos Yesterdays. Foi uma covardia saírem um para cada lado e a magia se perdesse.

Nada vai substituir a expectativa e o êxtase posterior, pela chegada do próximo LP dos The Beatles.

Depois, entrou na moda de se fazer política asfaltando tudo. Cismaram, para esquentar as cidades, de jogar uma capa sobre toda a terra na esperança de alcançar os votos. E como cavar as búlicas que eram caçapas para as bolinhas de gude?

Proibimos balões, desaparecemos com os circos e exigiram cintos de segurança para os carrinhos de rolimã. Parques infantis se contam nos dedos e as fábulas de La Fontaine desapareceram das livrarias.

Sobrou pouca coisa do fascínio que pairava sobre a nossa infância e adolescência. Acho que só a lenda de Papai Noel, mesmo desviado para as portas dos shoppings, alçado a símbolo do consumismo, foi poupado.

Agora, na Noruega, colocam em xeque sua sexualidade. Como se lendas tivessem sexo. Me poupem. E poupem o que sobrou para o imaginário carregado de verdades da Luísa, minha neta.

Nossos netos tem cada vez mais uma infância fria e calculada. A mula sem cabeça e a bruxa malvada erravam e nós aprendíamos o que era certo. Vivendo nos computadores, que graça tem passar de fase dentro de um quarto?

Papai Noel, esta figura lendária, que veio simbolizar, no aniversário de Jesus Cristo, a confraternização em família através dos presentes, um legado do seu nascimento na figura dos Três Reis Magos, precisa ser preservado.

Seu quarto, na Lapônia, não tem as cores azul ou rosa. É bege. Suas roupas não comportam todas as cores do arco-íris, são apenas vermelha e branca. E suas oito renas não se filiaram a nenhum partido de esquerda ou direita.

Sendo assim, deixem Papai Noel fora dessa babaquice. E procurem um serviço. No Natal tem vagas temporárias disponíveis. Será um presente para todos nós deixarem essa lenda tão querida em paz.


Por José Roberto Padilha
Imagem: Reprodução 

As opiniões contidas nessa coluna não refletem necessariamente a opinião do jornal

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