Idosos e pessoas com deficiência: como as famílias fazem para suprir suas necessidades de cuidados?

Mesmo que pareça realidade dos outros e sem representar objeto para maiores preocupações imediatas para alguns de nós, as dificuldades vivenciadas por inúmeras famílias nas suas manobras diárias com o orçamento para dar conta das despesas decorrentes das necessidades de um ente familiar com algum tipo de deficiência ou dependência de cuidados, são mesmo de tirar o fôlego e o sono de quem as experimentem.

Ainda mais nesses tempos em que o aumento dos preços nos atormenta e persegue a todo instante, refletindo o desajuste das economias mundiais em decorrência da recente pandemia do COVID-19.

No Brasil, esses estragos acabam sempre pesando com efeitos mais devastadores para as famílias de menor poder aquisitivo, sobretudo, para os núcleos familiares responsáveis pelo cuidado de idosos com comorbidades, crianças, jovens e adultos com alguma deficiência ou mobilidade reduzida, devido ao comprometimento da sua capacidade de se cuidar para suprir suas necessidades da vida diária, assomados à da necessidade de alguém para lhes prestar esses cuidados.

Cuidados de pessoa incapaz que envolvem despesas com alimentação, materiais, medicamentos, equipamentos, transporte, pagamento de plano de saúde, além de cuidadores em caráter temporário ou sistemático, que a depender dos recursos disponíveis e da possibilidade de que membro da família ou pessoa significativa se disponha assumir o compromisso de cuidar dessas pessoas em casa ou nos ambientes institucionais, podem se tornar mais onerosos, distantes e inviáveis do ponto de vista prático.

Quanto às despesas com alimentação é importante destacar que muitos precisam, por recomendação terapêutica, de se alimentar com dietas restritivas.

Portanto, de que suas refeições sejam preparadas com alimentos específicos, o que requer maiores despesas e mais recursos para sua realização.

As despesas com materiais, medicamentos e equipamentos seguem a mesma lógica, considerando-se tratar de elementos por excelência singulares, os quais vão exigir a reserva de recursos variados para aquisição e utilização de acordo com as necessidades das pessoas incapacitadas da família.

Do necessário para pagamento das despesas com transporte, há que se avaliar o nível de dependência funcional, sensorial e psicossocial da pessoa dependente de cuidados da família, estabelecendo relação com os cuidadores disponíveis para o respectivo acompanhamento e a eventual necessidade do uso de veículo particular ou do transporte coletivo, frequentemente inacessível.

Ademais, pelos valores exorbitantes cobrados pelas operadoras de serviços de saúde e os exíguos orçamentos da maioria das famílias brasileiras, em esmagadora maioria, raríssimos os núcleos familiares capazes de arcar com despesas dos planos de saúde, o que as obrigam a recorrer para os serviços públicos de saúde, os quais via de regra não oferecem profissionais médicos para atendimento em algumas especialidades, tanto quanto ou muito mais ainda em episódios de urgência ou emergência.

Sem alternativa e desassistidas pelos serviços públicos de saúde, as pessoas com deficiência acabam adquirindo complicações cada vez maiores, comprometendo seus planos e possibilidades de avançar em termos de ganhos funcionais, sensoriais e psicossociais, além de sobrecarregarem seus familiares pelo fato de regredirem no quadro de dependência de ajuda para atividades cotidianas.

A experiência adquirida na gestão de pasta municipal afeita à saúde, reabilitação e inclusão de idosos e pessoas com deficiência, ao longo de oito anos, nos ofereceu evidências consistentes do quanto sofrem pais de crianças com deficiência física ou intelectual, quando lhes são vetadas as oportunidades de atendimento regular no serviço público, pois não dispõem de condições orçamentárias para pagar por esses serviços na rede particular.

O mesmo ocorre com famílias com idosos dependentes de cuidados, que precisam de consultas, avaliações e orientações sobre como ministrar medicamento de uso regular, ou de quaisquer esclarecimentos sobre como proceder nos cuidados para controle dos sinais e sintomas, nas situações de urgência e emergência próprias das doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes e hipertensão arterial.

Em ambos os casos, é indubitável afirmar que é muito maior a segurança das famílias que residem em locais onde existem unidades públicas para lhes acolher nessas demandas, embora essa não seja a realidade prevalente em nossos municípios.

Para encerrar, ficam algumas questões para refletirmos, a saber: Como é possível arcar com o custo da deficiência sem apoio financeiro do Estado? O que é possível pagar com os R$ 1.100,00 do LOAS/mês, frente ao que uma pessoa com deficiência precisa no dia a dia?

Não bastasse o avilte do que se destina para que as pessoas com deficiência ou idosas dependentes “sobrevivam” suas necessidades de cuidados diários, a classe política e as cúpulas do executivo, legislativo e judiciário brasileiro, que vive bem acomodada em pleno gozo dos seus privilégios e regalias, por ela própria criados e legitimados, finge não perceber de tão empanturrada pelo consumo inebriante dos excessos que nos faltam.

Só mesmo a justiça divina para nos dar forças para transcender tais dissabores!!!

Por Wiliam Machado

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