A Transmissão de Despedida

Já havia me despedido do futebol, em 1997. Uma partida maravilhosa, aqui em Três Rios, entre o Master do Flamengo, com Zico, versus Rivelino e os meus amigos. Isso oficialmente.

Pois mesmo com 4 cirurgias no joelho esquerdo, os 2 tornozelos cobertos de artroses herdadas das fraturas, calçava as chuteiras uma vez por ano. Todo 30 de novembro, aniversário do meu irmão, a família entrava em campo para manter sua tradição.

Mantinha minha forma física nadando e andando de bicicleta.

Há 6 anos, após jogar o primeiro tempo, meu pai, postado na intermediaria, entre o alambrado e o bar, convidou-me a sentar ao seu lado. E não me poupou.

"Sabe o que você acaba de fazer? Sem o tempo da bola, perdeu a passada. E ainda está mancando. Se tenho um convidado ao lado, não seria fácil pra mim provar que meu filho jogou no Fluminense, no Flamengo, na Seleção Brasileira Sub-20. Melhor parar e deixar pro imaginário o seu futebol."

Há seis anos, fora em alguns sonhos e pesadelos, não entro mais em um campo de futebol.

Recordei disso lembrando da última narração do Galvão Bueno, durante as eliminatórias. Será que ele ainda tem pai?

Porque o Galvão não perdeu a passada, perdeu o tempo da emoção. E não há nada pior em uma transmissão, ao vivo, do que expressar mal o tempo da emoção. Aquele em que o narrador exalta o óbvio, e deixa escapar pelo microfone uma obra de arte.

A emoção é uma reação instantânea a um estímulo, algo que mexe com a gente e não envolve sentimento.

E o "olha o que ele fez!" será, daqui pra frente, feito sem que perceba. Pois "chegar, com seu inegável talento, foi fácil. Difícil, Reginaldo. é saber parar".

Mesmo lhe dando o desconto, pois nossa atual seleção é incapaz de proporcionar qualquer resquício de emoção, suas reações estão acompanhando a "classe de Casemiro" e a "habilidade" de Gabriel Jesus.

E o grito de gol não consegue mais o mesmo timbre, alcançar a mesma extensão.

Vamos, então, torcer para que ocorra logo a Transmissão de Despedida. Quem sabe, na última partida das eliminatórias.

E a sua voz, e a sua emoção, permaneçam em nossas lembranças com a incrível sintonia, de um dos maiores nomes da comunicação brasileira, com as quais descrevia a bandeirada final sobre a Mc Laren de Ayrton Senna.

Tchan Tchan Tchan! Tchan!

Por José Roberto Padilha
Imagem: Reprodução

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