Só temos que lhe agradecer, Marcão


Já contei, mas conto de novo. Foi muito marcante para ser esquecido.

Certo dia, na década de 70, onde atuei, uma senhora da alta sociedade, que jogava tênis nas quadras de saibro do Fluminense, se incomodou com a circulação de jogadores de futebol pela portaria principal.

A maioria, negros. E como raríssimos tinham acesso à "parte nobre" do clube, Parque Aquático e quadras de Tênis, Basquete e Futsal, ela comandou um abaixo assinado para que nós, jogadores, entrássemos pelos fundos.

E uma portaria foi improvisada na Rua Pinheiro Machado, a servir funcionários e jogadores.

A Rua Álvaro Chaves voltou a ser branca de vergonha.

E eu pensava: mas quem levava o nome do clube para a mídia, o fazia respeitado e reconhecido, eram justamente os atletas negros. Marco Antonio, tricampeão mundial. Denilson, capitão da seleção de 66, o Rei Zulú. E tinha o Oliveira, Toninho, Cafuringa, Mazinho, Ivair, Zé Maria, Jairo e Carlos Alberto Pintinho.

Da parte nobre, só a Juliana Veloso se destacava nos saltos ornamentais. E os irmãos Bial no basquete. E mais nada.

Isso, somado à história que deu origem ao pó-de-arroz, onde embranquiçaram um negro para não chocar o estatuto, marcaram muito a nossa geração.

Quanto racismo imperava no clube do meu coração.

Hoje, vejo com orgulho o nosso comandante ser um negro. Marcão tem a cara do Fluminense que eu sempre quis. Foi um jogador espetacular e tem sido um bombeiro exemplar.

Jamais lhe deram uma chance como treinador. Aquele que faz a pré temporada, opina sobre contratações e monta seu plano tático. Como julgá-lo se ele só entra para apagar o incêndio da derrocada do Odair? Acalmar um elenco que não se entendia com o Roger?

Amanhã, tem decisão contra o Corinthians. Ou vamos brigar pela Libertadores, ou se perdermos, passar o ano assistindo mais carreatas rubro negras.

Que o grupo reconheça a história de luta e superação do Marcão. E lhe dê como presente a vitória. Quem sabe ano que vem não lhe cedam a oportunidade que tanto merece?

No lugar de bombeiro a apagar as chamas que não provocou, ser o arquiteto do soerguimento daquele prédio chique de vitrais franceses, acostumado a receber taças, troféus, a Taça Olimpica de 1952.

Mais do que isto. A glória de ter superado o racismo e se orgulhar do Marcão, Luiz Henrique e Cia.entrarem pela porta da frente com a auto estima elevada e a cabeça erguida.

Por José Roberto Padilha
Imagem: Reprodução

Comentar

أحدث أقدم