Já não são tantas as emoções...


Quem inventou a gaiola foi o mesmo cidadão que inventou a prisão. Com uma diferença: os pássaros que foram capturados não cometeram crime algum.

Seus únicos pecados foram nos encantar com seus cantos.

Daí veio o homem, em seu inexplicável egoísmo, e tratou de se apossar de uma dádiva. A mais pura melodia que foi composta quando nos concederam a natureza.

Como exaltaremos os princípios que nortearam a Lei Áurea, que libertou os escravos, se não somos capazes de alcançar a Lei Aves, que libertaria os pássaros?

Tão frágeis, não esperem que sobrevoam às ruas para protestar. Muito menos, façam greves ou deixem de cantar.

Pobres são aqueles que mal sabem distinguir um canto triste, aprisionado, de um canto alegre, em liberdade.

Nunca é tarde para uma retomada de consciência. Já deixamos de fumar, de jogar lixo nas encostas, de pôr fogo nas matas e preservar os animais. Que tal devolver ao meio ambiente sua melhor trilha sonora? Cores diversas que voltarão a alegrar os céus?

Está na hora de abrir as portas das nossas gaiolas e deixá-los curtir os lugares que jamais deveriam ter sido privados.

Se tenham dúvidas da grandeza desse gesto, pense em um mundo em que eles teriam as chaves das prisões. E em uma delas, às vésperas do Natal, engaiolam o nosso Rei.

Um irresponsável, cheio de asas, arma uma arapuca e o captura para o ouvir com exclusividade.

E, pela primeira vez, Roberto Carlos não apareceria na televisão para cantar no aniversário do filho de quem a todos criou para conviver em harmonia. .

Sem intérpretes, isolado em sua ignorância, a ave egoísta mal entenderia seus primeiros acordes, como muitos humanos ainda não alcançaram os lamentos de sua ode à solidão.

"Quando eu estou aqui eu vivo esse momento triste...!"

Já não seriam tantas as emoções.

Coluna José Roberto Padilha

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