O sonho e a Rebeca



Quantas vezes, ao assistir o vôlei de praia feminino, não conseguimos conter o preconceito que logo vem à tona: "Caramba, olha uma gordinha jogando em meio às saradas!"

Igualzinho quando um jogador de futebol calvo entra em campo. Precisa correr o dobro para superar a primeira impressão negativa que fica. Pessoalmente, fui uma das vítimas quando jogava pelo Americano, Goytacaz, Bonsucesso...

No auge dos meus trinta anos. "Lá vem o veterano Zé Roberto..."

Azar de quem desligou a TV e perdeu a exibição de técnica e colocação da "gordinha". Ao lado da Talita, Rebeca venceu duas saradíssimas adversárias na primeira etapa do circuito brasileiro de vôlei de praia.

E foi considerada, pelo Sportv, a melhor do jogo.

Sua performance me deu esperança de ter a coragem de voltar a comer o sonho que me esperava sorrindo na padaria do Fofão. Desde que as nossas nutricionistas deixaram de ser conselhos de tias para virar receituários da profissão, o sonho foi condenado ao abandono.

Considerado, por conter glúten, gordura, farinha de trigo, gemas, carboidrato, fermento, maizena, margarina e açúcar, o inimigo número um da boa forma física, esta delicia, transformada em bomba relógio, passou até a nos sorrir amarelado de vergonha.

Com a vitória da Rebeca, mostrando que é possível viver bem, jogar melhor ainda com alguns quilos a mais, quem sabe poderemos voltar a sonhar em libertar nossos desejos mais autênticos?



Por José Roberto Padilha

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