Eu e a Cidade



Essa foto da cidade de Entre-Rios, hoje Três Rios, provavelmente representativa das décadas de 20 a 40 foi a motivação da coluna. Há vários dias ela não sai de minha lembrança, numa mistura de angustia, idealização, e reflexão: que cidade linda era essa da foto e em que ela se transformou.

Em muitas cidades do interior do país, tem acontecido a demolição de inúmeros imóveis seculares, de valor artístico e cultural, de propriedade particular ou pública, que está dando lugar a outro tipo de edificação.

Estes novos edifícios surgem de maneira abrupta e se sobrepõem à paisagem vernacular, tradicional, lugares de memória, lamentavelmente desconsiderando todos os condicionantes conformadores do espaço urbano e sua história.

Desse modo, a leitura espacial e sua compreensão ficam comprometidas, uma vez que os suportes físicos da memória das cidades são apagados, dando lugar a construções que não dialogam e não respeitam o meio existente.

A história dessas cidades vai se apagando, ficando sem identidade, sem memória, sem atrativo turístico, sem personalidade, iguais a tantas outras, com estilo massificado, parecendo a mesma em todo lugar só mudando de localização.

Preservar e cuidar da manutenção do patrimônio cultural construído é um grande desafio da atualidade. O crescimento das cidades, a expansão imobiliária, o déficit habitacional e os impactos ambientais constituem fatores que desafiam os gestores públicos a confrontar o desenvolvimento eminente, com a necessidade de minimização de impactos ambientais e sociais.

No âmbito do Patrimônio Cultural, esforços têm sido canalizados visando a consolidação de uma política de proteção, assim como ações efetivas de preservação de acervos e restauração de bens culturais que se encontram em estado de conservação ruim.

Sabemos que patrimônio cultural é tudo que remete a um valor simbólico e histórico, suscitando um sentimento de identificação com um lugar e o seu tempo. Então, podemos dizer que a preservação é importante para que estes objetos e manifestações culturais não sejam destruídos no decorrer do tempo. É por meio do patrimônio cultural que as gerações futuras terão acesso ao que ocorreu com os seus povos.

Primeira medida a ser tomada para que proteção aconteça é a conscientização da população,que deve ser orientada e incentivada pelas escolas, veículos de comunicação, associações de diferentes órgãos, envolvendo todos nesse sentido.

Assim, as pessoas perceberão que são responsáveis pela salvaguarda e valorização dos bens culturais, tornando-se fiscalizadoras e apreciadoras dos mesmos.

Um fator que precisa ser lembrado é a função do patrimônio cultural na economia de uma cidade, pois este impulsiona o movimento financeiro principalmente na área do turismo,sendo também.um gerador de empregos. Outro aspecto importante é a utilidade do patrimônio como fonte histórica, permitindo ao historiador entender os paradigmas e comportamentos de uma sociedade em uma determinada época.

Com uma progressiva perda e descaracterização do Patrimônio Histórico, temos que refletir acerca da constante necessidade de transformação dos espaços urbanos, paralelo às implicações referentes à qualidade ambiental e preservação do patrimônio construído.

O Patrimônio Arquitetônico representa uma produção simbólica e material, carregada de diferentes valores e capaz de expressar as experiências sociais de uma sociedade.

As cidades não são locais onde apenas se ganha dinheiro, não se resumem em ser apenas dormitório para seus habitantes. Nela vivem seres que possuem memória própria e são parte integrante da história dessas cidades, que precisam ser ouvidos e chamados a participar dessa transformação.

Não passa despercebido pelos habitantes à destruição da casa de seus antepassados, de antigos cinemas, bares, escolas, praças e outros prédios históricos.

Toda essa destruição do patrimônio para dar lugar ao automóvel, a farmácia, a loja x ou y, ou aos gigantes edifícios de aço e concreto deixam as cidades poluídas, sem emoção e seus habitantes perdem um pouco da identidade e identificação com o local onde vivem.

Por: Vera Alves  

1 Comentários

  1. Parabenizo a autora do texto. Infelizmente a especulação imobiliária e o descaso com o patrimônio histórico-arquitetônico tem produzido aços bastante danosas para com a memoria do país.

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