José de Nazaré: “sombra do Pai Celeste na terra” - II

Retomando com o Padre Adroaldo Palaoro, SJ., a nossa reflexão da semana passada, há algo que podemos trazer à luz da vida de José em Nazaré: que na lentidão do dia-a-dia, da monotonia e do lar, Deus preparava o caminho. Pouco a pouco, a fogo brando.

Em meio à rotina de uma vida simples, José foi fazendo-se perguntas, esperando as respostas, ouvindo o que seu coração lhe dizia e discernindo o que Deus queria dele.

Ano após ano, em um pequeno lugar, detrás de uma vida que nada tinha de diferente das outras vidas. Como homem, José precisou passar pelo processo do amadurecimento lento, lançando mão de todos os recursos que encontrou em seu próprio interior e ao seu redor.

Cozinhar a fogo lento é bem difícil neste mundo de pressas e imediatismos. E hoje, mais do que nunca, se fazem necessários os “tempos de Nazaré”, esses tempos de aparente rotina nos quais se alimentam os sonhos, onde se forjam as vontades, se domam as impaciências, se aclaram os caminhos, se discerne a Voz, se dissipam as névoas do caminho...

Em definitiva, esse tempo onde nosso canto e o de Deus se afinam juntos para formar uma única melodia e fazê-la soar no mundo.

José, em Nazaré, continua sendo luminoso e inspirador para todos nós, num momento em que as transformações são rápidas e exigem de nós maturidade, aprendizado, diálogo, novas expressões de fé...

A família de Nazaré evoca o dia-a-dia da nossa paternidade/maternidade, onde os acontecimentos extraordinários são pouquíssimos. Chega um momento em que a vida cristã parece muito rotineira. Nazaré alimenta e prolonga a paternidade de Deus no cotidiano e comum da vida.

Nazaré é a escola na qual aprendemos a descobrir a presença de Deus na vida “tal como ela é”, no trabalho das pessoas e nos rostos daqueles que estão ao nosso lado. No lugar onde nos cabe viver é onde o Senhor nos ama e nos convida a descobri-Lo.

Mas Nazaré é também um alerta contra a rotina. Cada dia é preciso enraizar mais ainda nossa vocação paterna/materna no coração compassivo de Deus Pai/Mãe. Por isso Nazaré é o lugar da perseverança, da fidelidade, de dizer cada dia um novo “sim” ao Senhor.

No cotidiano há momentos favoráveis e momentos de crise. Mas o cotidiano é a oportunidade para ampliar o olhar para a frente. Nazaré pode ser um lugar de esperança, de onde se pode vislumbrar um futuro melhor.

Nazaré evoca também a comunhão dentro da diversidade. Num pequeno povoado as pessoas são tão diferentes como numa cidade grande, mas a vulnerabilidade delas nos faz despertar a consciência da necessidade que temos uns dos outros.

Numa comunidade pequena os problemas de um afetam os outros. Suas fragilidades se fazem fortes quando se apoiam mutuamente; suas solidões que se unem criam comunhão. Vivamos em nossas comunidades a grandeza de sermos plenamente humanos!

A presença silenciosa, original e mobilizadora de José desvela e ativa também em nós uma presença inspiradora, ou seja, descentrar-nos para estar sintonizados com a realidade e suas carências.

Tal atitude nos mobiliza a encontrar outras vidas, outras histórias, outras situações; escutar relatos que trazem luz para nossa própria vida; ver a partir de um horizonte mais amplo, que ajuda a relativizar nossas pretensões absolutas e a compreender um pouco mais o valor daquilo que acontece ao nosso redor; escutar de tal maneira que aquilo que ouvimos penetre na nossa própria vida; implicar-nos afetivamente, relacionar-nos com pessoas, não com etiquetas e títulos; acolher na própria vida outras vidas; histórias que afetam nossas entranhas e permanecem na memória e no coração.

Disto se trata: aprender dos outros; recarregar nossa própria história de um horizonte diferente, no qual cabem outras possibilidades e outras responsabilidades; descobrir uma perspectiva mais ampla que ajuda a formular melhor o sentido de nossa própria vida.

Em José descobrimos a verdadeira vocação de todo ser humano. Ser como José não é uma simples meta a alcançar, pois partimos da mesma realidade da qual ele partiu. O que estamos celebrando, neste “ano de S. José”, nos indica o ponto de partida de nossa trajetória humana, não o ponto de chegada.

Permitimo-nos sugerir ao leitor amigo a meditação dos textos bíblicos: Lc 2,21-40;Lc 15,11-32; Lc 10,25-37. E na oração: Considerar como tudo o que você é e possui provém de Deus Pai, se origina e se enraíza n’Ele.

Considerar, como deve, de sua parte, amar as pessoas de tal maneira que se faça transparente, para que através de você os outros possam conhecer quem é Deus.

- Você é chamado a deixar “transparecer” a imagem de Deus Pai, através da sua bondade, justiça, serviço...

Enquanto isso seja nosso convidado para participar todas as quartas-feiras da Noite devocional de São José, rezando o seu Terço e sua Ladainha e meditando a Carta do Papa Francisco sobre a atualidade de seu testemunho para todos nós cristãos e cristãs. E nos dias 19, de cada mês, da Missa Votiva de São José com a concessão da indulgencia plenária de seu Ano Santo!

Medoro, irmão menor-padre pecador



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