José de Nazaré: “sombra do Pai Celeste na terra” - I

Neste ano de 2021, consagrado pelo Papa Francisco a São José, continuamos aqui, em nossa coluna semanal, auxiliado por meu amigo e irmão de ministério, o jesuíta Pe Adroaldo Palaoro, nossas reflexões sobre o Patrono da Igreja, venerado todas as quartas-feiras e celebrado na Eucaristias do dia 19, de cada mês. Hoje e na próxima semana queremos dialogar sobre a novidade e a grandeza de sua paternidade.

“O escritor polaco Jan Dobraczyński, no seu livro A Sombra do Pai, narrou a vida de São José em forma de romance. Com a sugestiva imagem da sombra, apresenta a figura de José, que é, para Jesus, a sombra na terra do Pai Celeste: guarda-O, protege-O, segue os seus passos sem nunca se afastar d’Ele” (Papa Francisco – Patris Corde).

O saber estar “à sombra” para não fazer sombra a outros, o escutar e discernir a vontade divina, a preocupação pelo bem-estar dos demais, o silêncio contemplativo e radical que lhe permitia aprofundar na realidade, a prontidão na “obediência à fé” e a disponibilidade sem fissuras à graça, são as qualidades com as quais José entrou em sintonia com Deus, dando sua contribuição decisiva ao mistério da salvação.Por isso, ele se revela como inspirador a todos nós.

José, foi aquele que se abriu ao Deus surpreendente e deixou-se conduzir por Ele. Dele não se diz muito nos evangelhos, mas o que ali se diz nos revela uma presença surpreendente, capaz de ver mais além do cotidiano e estabelecido. Presença que aponta para uma outra presença, a de Jesus.

Seria um equívoco considerar José uma espécie de marionete nas mãos de Deus, que lhe atropelara a liberdade. A catequese evangélica tem como ponto de partida a convicção de ser possível o ser humano "escutar e praticar" a vontade de Deus, mesmo quando lhe é pedido algo, à primeira vista, superior à capacidade de suportar. José não dá mostras de agir a contragosto, acuado, pressionado ou duvidoso.

Age com a liberdade de quem sabe o que faz, colocando-se à inteira disposição de Deus, com total generosidade. Ele conhecia as bases em que se construía sua relação com Deus, donde sua disposição para radicalizar a vivência da fé.

Segundo a revelação bíblica, Deus se deixa “transparecer” na Criação e na humanidade. Em tudo, encontramos “marcas” de sua presença e de sua ação. Todos os bens e graças “descem do alto”, como o sol desce com seus raios. Em todas as coisas aparece a sabedoria, a palavra, o dom de Deus; em todas as pessoas transparece a bondade, o cuidado, a compaixão do Deus Pai/Mãe.

José, na sua vocação paterna, torna-se “diáfano” de Deus Pai (deixa transparecer a imagem paterna/materna de Deus). Através do seu modo de ser e de agir, carregado de silêncio inspirador, José, não só revela uma profunda sintonia com Aquele que o chamou a assumir a vocação paterna, mas deixou “fluir”, no cotidiano e na simplicidade de sua vida, os atributos d’Aquele que o conduzia. O coração de José passa a pulsar em acorde com o coração de Deus Pai: a Paternidade divina flui na paternidade humana.

Deus Pai encontrou liberdade para ativar e tornar visível em José as características próprias de um pai: “Não se nasce pai, torna-se tal... E não se torna pai, apenas porque se colocou no mundo um filho, mas porque se cuida responsavelmente dele. Sempre que alguém assume a responsabilidade pela vida de outrem, em certo sentido exercita a paternidade a seu respeito” (Papa Francisco, Patris Corde)

Porque estava presente a Deus, José fez-se presente nos momentos decisivos da Família de Nazaré, bem como fez-se presente na vida das pessoas. Uma presença que faz a diferença: presença solidária, marcada pela atenção, prontidão e sensibilidade, próprias de um pai que acompanha com ternura.

Sua presença não era presença anônima, mas comprometida; presença que é “música calada” nos lugares cotidianos e escondidos, que sabe enternecer-se e escutar as inquietações que procedem desses lugares. Uma presença que descobre o próximo no próximo, que sabe resgatar a solidariedade na vida cotidiana; uma presença que se manifesta na ausência de recompensa ou de interesse próprio.

Na próxima quarta-feira concluiremos essa reflexão. Enquanto isso seja nosso convidado para participar todas as quartas-feiras da Noite devocional de São José, rezando o seu Terço e sua Ladainha e meditando a Carta do Papa Francisco sobre a atualidade de seu testemunho para todos nós cristãos e cristãs.

E no próximo sábado, dia 19, como em todos os dias 19, de cada mês, da Missa Votiva de São José com a concessão da indulgencia plenária de seu Ano Santo!

Medoro, irmão menor-padre pecador

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